18 outubro 2010

Regresso ao passado...

Nora algarvia - Fotografia captada no último fim de semana na Aldeia de Alte no Algarve.
Desafio semanal da FLINPO - Tema:  Água

2 comentários:

  1. Belíssimas fotos. Parabéns!

    __

    capillus veneris [1]

    há um choro granítico, silencioso,
    que pende hialino das paredes húmidas.

    lágrimas e rugas apenas.

    na vertical do meio-dia,
    da nora os mouriscos gemidos.
    numa esperança de sol,
    êxtase são as lágrimas e os limos.
    companheiras as estilhas de luz
    que tombam rente aos salpicos de água
    na cintilação ocre dos alcatruzes.
    um colar de pranto e argila
    sob a figueira brava.

    da noite, o manto e os pássaros.
    num retorno ao mel e ao verde quase azul,
    o cabelo de vénus refulge de doçura
    sob o agosto de um quarto de lua.

    do dia, a ignescência do sol e a quietude do vento
    em sonhos de água de brilho intenso.

    fotossíntese das minhas utopias,
    dás-me a beber, serena capilária,
    na respiração solitária do teu silêncio,
    da esperança a doce clorofila.

    na vertigem de espelhos do teu poço-oásis
    habitas-me assim, cappillus veneris,
    em inconsciente e etéreo delírio,
    as raízes mais profundas da minha alma.



    [1]- Cabelo de Vénus. "Adiantum cappillus-Veneris" (Lin.) - Planta herbácia medicinal, também chamada capilária e avenca, que cresce nos sítios sombrios e húmidos do País (v.g. poços, minas, rochedos húmidos).



    "...tirando a cada momento da algibeira rebuçados de avenca para o catarro"
    (Eça de Queirós, "O Primo Basílio)

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  2. Agradecida Zénite!

    Lágrimas Ocultas

    Se me ponho a cismar em outras eras
    Em que ri e cantei, em que era querida,
    Parece-me que foi noutras esferas,
    Parece-me que foi numa outra vida...

    E a minha triste boca dolorida,
    Que dantes tinha o rir das primaveras,
    Esbate as linhas graves e severas
    E cai num abandono de esquecida!

    E fico, pensativa, olhando o vago...
    Toma a brandura plácida dum lago
    O meu rosto de monja de marfim...

    E as lágrimas que choro, branca e calma,
    Ninguém as vê brotar dentro da alma!
    Ninguém as vê cair dentro de mim!

    Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

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